"Havia uma aldeia de criaturas
ao longo do fundo de
um grande rio de cristal.
A corrente do rio corria silenciosamente
sobre todos eles, novos e velhos,
ricos e pobres, bons e maus,
a corrente seguia o seu próprio caminho,
conhecendo apenas a sua natureza de cristal.
Cada criatura, à sua maneira, agarrava-se com força
aos ramos e às rochas do fundo do rio,
pois era esta a sua forma de vida, e resistir à corrente
era o que tinham aprendido desde que tinham nascido.
Mas uma criatura disse finalmente:
Estou cansada de me agarrar.
Embora não consiga ver com os meus olhos,
acredito que a corrente sabe para onde vai.
Vou-me largar e deixar que ela me leve
para onde queira. Aqui morrerei de tédio.
As outras criaturas riram e disseram: Tolo!
Se te largares essa corrente que adoras
atirar-te-á e esmagar-te-á contra as rochas
e morrerás mais depressa do que de tédio!
Mas essa criatura não lhes deu ouvidos e,
respirando fundo largou-se
e foi imediatamente atirado
e esmagado pela corrente contra as rochas.
Mas, com o tempo recusando-se a criatura
a voltar a agarrar-se, a corrente ergueu-o,
libertando-o do fundo e ela não foi mais esmagada e ferida.
E as criaturas a juzante do rio, para quem ela era uma estranha,
gritaram: Vejam o milagre! Uma criatura como nós, contudo voa!
Vejam o Messias, vindo para nos salvar a todas!
E a criatura levada pela corrente disse:
Sou tanto o Mesias como vós.
O rio adora libertar-nos se ousamos largar-nos.
O nosso verdadeiro trabalho é esta viagem, esta aventura.
Mas elas não paravam de gritar "Salvador"
enquanto se agarravam ás rochas e,
quando olharam de novo, ela desaparecera e
ficaram sozinhas a construir lendas sobre um Salvador.
(Ilusões -R. Bach pg.14-18 Publicações Europa-América. Edição portuguesa)
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