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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Acreditar que é possível (ou parábola da ousadia)

"Havia uma aldeia de criaturas
ao longo do fundo de
um grande rio de cristal.

A corrente do rio corria silenciosamente 
sobre todos eles, novos e velhos, 
ricos e pobres, bons e maus, 
a corrente seguia o seu próprio caminho,
 conhecendo apenas a sua natureza de cristal.

Cada criatura, à sua maneira, agarrava-se com força
 aos ramos e às rochas do fundo do rio, 
pois era esta a sua forma de vida, e resistir à corrente
 era o que tinham aprendido desde que tinham nascido.

Mas uma criatura disse finalmente:
Estou cansada de me agarrar. 
Embora não consiga ver com os meus olhos, 
acredito que a corrente sabe para onde vai. 
Vou-me largar e deixar que ela me leve 
para onde queira. Aqui morrerei de tédio.

As outras criaturas riram e disseram: Tolo! 
Se te largares essa corrente que adoras 
atirar-te-á e esmagar-te-á contra as rochas 
e morrerás mais depressa do que de tédio!

Mas essa criatura não lhes deu ouvidos e,
 respirando fundo largou-se 
e foi imediatamente atirado 
e esmagado pela corrente contra as rochas.

Mas, com o tempo recusando-se a criatura
 a voltar a agarrar-se, a corrente ergueu-o,
 libertando-o do fundo e ela não foi mais esmagada e ferida.

E as criaturas a juzante do rio, para quem ela era uma estranha,
 gritaram: Vejam o milagre! Uma criatura como nós, contudo voa!
 Vejam o Messias, vindo para nos salvar a todas!

E a criatura levada pela corrente disse: 
Sou tanto o Mesias como vós.
O rio adora libertar-nos se ousamos largar-nos. 
O nosso verdadeiro trabalho é esta viagem, esta aventura.

Mas elas não paravam de gritar "Salvador" 
enquanto se agarravam ás rochas e,
 quando olharam de novo, ela desaparecera e 
ficaram sozinhas a construir lendas sobre um Salvador.

(Ilusões -R. Bach  pg.14-18 Publicações Europa-América. Edição portuguesa)

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